Wednesday, March 29, 2006

Um sentido... sem sentido?


Um sentido de vida nos dias que caem à nossa frente quando imaginamos ter tudo pensado, tudo ligado, tudo preparado para um futuro de glamour, de sonho, de paz, de alegrias e tristezas, de sorrisos e choros, com o amor de quem nos ama, com casamento, filhos, casa, carro, roupa, sentimentos, momentos inesquecíveis, momentos orgásmicos. É esse sentido que nós queremos, é esse sentido que sonhamos, é nesse sentido que todos os dias trabalhamos, para um dia mais tarde podermos dizer: "Hoje, não me importo de morrer, consegui!". Sempre, sem saber que seremos esquecidos mais tarde, que seremos deixados de lado, ignorados, colocados aparte, com desconhecidos, duvidando da nossa palavra, dos nossos ideais, das nossas vidas, dos nossos passados. Aqueles cuja vida saía das nossas mãos, nos dias em que o esforço no dia-a-dia comandava o nosso destino, viver de nós para nós e para os nossos, não esperando mais nada dos outros, sobrevivendo para não ir morrendo. Os mais velhos, os velhotes, aqueles que devem ser respeitados, amados, aqueles que nos deram o que temos hoje, aqueles que sorriem quando contam histórias, que choram quando nos vêem, que conseguem ser teimosos quando querem mas queridos quando menos se espera, aqueles que pensamos saberem menos que nós, são os que nos dão a maior lição de vida. A vida que eles quiseram um dia dar sentido, para não ter de morrer numa cama de um lar ou de um hospital, mas naquela que construíram. Porque não dar-lhes uma maior atenção? Porque não aprendermos com eles? Procurar aquela criança dentro deles e falar com eles como falamos com os amigos? Não são dinossauros, são pessoas como nós que um dia pensaram como nós, quiseram viver o momento, chorar com os amigos, sorrir com os amigos, mentir aos pais de onde estavam, apanhar aquela bebedeira, roubar aquela peça de fruta, dar mergulhos no rio, esconder a comida que não gostavam no guardanapo, sonharam com brinquedos que nunca tiveram, choraram por comida que nunca comeram, ansiaram por uma vida que, se calhar, nunca viveram mas à qual tentaram dar um sentido... um sentido igual ao que nós queremos dar, ao que nós damos, ao que nós temos... momentos diferentes, vidas iguais... para morrer sozinho. Será que este sentido terá algum sentido?

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