Sunday, April 02, 2006

Years ago...Jul02


Já falámos. Sinto-me bem. Tou na praia. Devem ser umas 3 da manhã e eu em Carcavelos. Tento despairecer. Já não sinto o que sentia por ti. Pode ser que o sinta mais tarde, pode ser que o não sinta mais. Não sei. Mas neste momento, prefiro não saber. Tou sentado numas rochas antes da areia. Ouço um grupo de amigos a cantar umas músicas de um clube de futebol. Estão felizes. Eu também estou. E cada vez vou estar mais. Continuo, no entanto, a pensar.
O cigarro fuma-se sozinho pousado em cima da rocha. Não me importo. Só faz mal. Falava e falava, sem saber do que se tratava. Resolvi experimentar. Nem gostei. Deixava-me tonto e mal disposto. Ao menos distraía-me. Sou fraco. Foi uma experiência estúpida. Mas não estou arrependido. Fiz porque quis. Não tenho de me arrepender, nem vale a pena. Não fumarei mais.
A brisa do mar passa por mim. Traz consigo o cheiro da areia, do sal, do mar e da noite. É agradável. Muito Agradável.
O que era papel e tabaco, são agora cinzas. O cigarro acabou. Dei um bafo ou dois e pousei-o. Não lhe toquei mais. Cinzas. É o que resta do que sentia. Agora o tempo fará com as minhas cinzas o que o vento fará com as do cigarro. Levá-las-á para longe, até desaparecerem. Fica o filtro. Não quero perder a sua amizade. Será que também fica? Eu queria que ficasse. E se o vento levar também o filtro? E se o tempo fizer o mesmo que o vento? Não sobra nada. Será que é isso que vai acontecer? Não sei. Logo se verá. Espero que não.
Atrás de mim está um muro ao qual me encosto. Tá-me a doer as costas. Por detrás do muro, está o carro em que vim. É do Chagas. Ele está sentado em cima do muro a uns dez metros de mim. Está a pensar. É muito boa pessoa. O Karrasco está dentro do carro a tentar dormir. Puseram o som num volume bastante alto para se poder ouvir cá fora. Tá alto demais.
Tá muita luz. Muitos candeeiros e holofotes iluminam a praia. Não deixam ver as estrelas. As ondas vêm e vão que nem os amigos. Há amigos que ficam. Ainda bem. Também há alturas em que a maré enche. Óptimo. Mas muito cheia é demais. Eu passo por uma maré vazia. Mal toco com os pés na água. A culpa é da lua. Está ao meu lado esquerdo lá em cima junto com as estrelas e não diz nada. É ela que altera as marés, mas não sabe responder porquê. Só sabe é dar e fazer reflexos nas ondas do mar e enfeitar as núvens com um suave brilhar. Fica bonito.
Mal vejo o horizonte. O horizonte é uma das mais perfeitas linhas que conheço. Pelo menos no mar. Sem uma única curva, um único defeito. No entanto, nem chega a existir.
O grupo de amigos continua lá. Conversam, contentes. Partilham a sua alegria. Eu também quero partilhar a minha. Com os meus amigos. Contigo. Não quero perder a tua amizade. Não te quero perder...

Ventania



Não posso com o vento. Forte. empurra-me. Para trás. De costas. Cada vez me inclino mais para encontrar a posição perfeita para o cortar, equilibrar e avançar. Parece que vou cair. Não quero cair. É Física. Estudei-a. Quase chego la, mas existe sempre qualquer obstáculo que vem com o vento e acerta-me. Desiquilibra-me. Fecho os olhos e abro os braços. Não. Volto a abri-los e inclino-me. Levo com outro. Volto a abri-los e inclino-me. Outro. Volto a abri-los e inclino-me. Mais outro. Volto a ... Para quê? Outro. Volto a abri-los e inclino-me.

Não quero cair.

Detesto o vento.